Toneladas de lixo foram recolhidas em mutirão, saquinhos de plástico (!!!!) foram distribuídos nas praias, o WWF-Brasil ergueu um monumento inflável protestando contra o desperdício de água, crianças plantaram árvores: uma grande festa! E no dia seguinte, tudo é esquecido. Continuaremos a produzir muito mais resíduos que nossa capacidade de reciclá-los, gastaremos sempre muito mais água que o necessário, continuaremos destruindo nossas florestas.
Deixando de lado o discurso que pode soar como ecochato de que a natureza deve ser preservada simplesmente pelo seu valor intrínseco, não podemos esquecer que ela presta serviços essenciais à nossa sobrevivência. Países europeus gastam fortunas para extrair o sal da água do mar por não terem mais água potável para consumo. O desmatamento ameaça a produtividade dos solos até mesmo para a agricultura. A destruição das encostas causa assoreamento dos rios. O aumento das emissões de gás carbônico para a atmosfera, seja pelas muitas queimadas nas zonas rurais ou pela vida frenética das grandes cidades, acelera o processo de aquecimento global. A importação de um padrão de consumo incompatível com nossa economia e sociedade faz com que esgotemos nossos recursos atropelando o curso natural da história ecológica. Mudanças climáticas, extinção de espécies e modificações nos ecossistemas são processos naturais ao longo de milhares de anos. As ações do homem – o mais irracional de todos os seres vivos – assumem, hoje, proporções geológicas, pela velocidade com a qual atingem o meio ambiente.
Desde os tempos do Brasil colônia, sabemos que destruição ambiental é sinal de atraso, e não de progresso, como é difundido até hoje, e bem discutido por
Joaquim Nabuco, um dos grandes abolicionistas, escreveu logo após o fim da escravidão: O caráter de sua cultura é a imprevidência e a rotina, a indiferença pela máquina, o mais completo desprezo pelos interesses do futuro, a ambição de tirar o maior lucro imediato com o menor trabalho próprio possível, qualquer que seja o prejuízo às gerações seguintes.
Falta de conhecimento não pode ser desculpa. O pensamento imediatista e a ganância são as verdadeiras causas. Coisas que não mudam em um dia só.
Em tempo: O IBAMA apreendeu ontem, em feiras em Campo Grande e Duque de Caxias, cerca de 200 aves. Dezesseis pessoas foram detidas e indiciadas (veja n'O Globo). "Os pássaros apreendidos pela polícia serão agora encaminhados ao Centro de Triagem do Ibama, em Seropédica, para depois serem reintegrados à Mata Atlântica". LAMENTÁVEL!