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Coisas da vida, artesanato, fotografia e meio ambiente

Versão 3.2/2008: Tudo na vida é uma questão de prioridade, comedimento e tolerância.
segunda-feira, 6 de junho de 2005
Dia Mundial do Meio Ambiente

Saiu n'O Globo de hoje: O mundo inteiro comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente

Comemorar o quê? Os 25 anos de desmatamento da Amazônia, os 7% de Mata Atlântica que restaram, a escassez de água no mundo ou a desertificação da África?

Toneladas de lixo foram recolhidas em mutirão, saquinhos de plástico (!!!!) foram distribuídos nas praias, o WWF-Brasil ergueu um monumento inflável protestando contra o desperdício de água, crianças plantaram árvores: uma grande festa! E no dia seguinte, tudo é esquecido. Continuaremos a produzir muito mais resíduos que nossa capacidade de reciclá-los, gastaremos sempre muito mais água que o necessário, continuaremos destruindo nossas florestas.

Deixando de lado o discurso que pode soar como ecochato de que a natureza deve ser preservada simplesmente pelo seu valor intrínseco, não podemos esquecer que ela presta serviços essenciais à nossa sobrevivência. Países europeus gastam fortunas para extrair o sal da água do mar por não terem mais água potável para consumo. O desmatamento ameaça a produtividade dos solos até mesmo para a agricultura. A destruição das encostas causa assoreamento dos rios. O aumento das emissões de gás carbônico para a atmosfera, seja pelas muitas queimadas nas zonas rurais ou pela vida frenética das grandes cidades, acelera o processo de aquecimento global. A importação de um padrão de consumo incompatível com nossa economia e sociedade faz com que esgotemos nossos recursos atropelando o curso natural da história ecológica. Mudanças climáticas, extinção de espécies e modificações nos ecossistemas são processos naturais ao longo de milhares de anos. As ações do homem – o mais irracional de todos os seres vivos – assumem, hoje, proporções geológicas, pela velocidade com a qual atingem o meio ambiente.

Desde os tempos do Brasil colônia, sabemos que destruição ambiental é sinal de atraso, e não de progresso, como é difundido até hoje, e bem discutido por José Augusto Pádua em seu livro Um Sopro de Destruição. José Bonifácio, em 1823, fez uma declaração profética aos membros da Assembléia Constituinte e Legislativa do império do Brasil, sobre a escravatura: A Natureza fez tudo a nosso favor, nós, porém, pouco ou nada temos feito a favor da Natureza. (...) Nossos montes e encostas vão-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes que favoreçam a vegetação e alimentem nossas fontes e rios, sem que o nosso belo Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido aos paramos e desertos áridos da Líbia. Virá então este dia (dia terrível e fatal), em que a ultrajada Natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos.
Joaquim Nabuco, um dos grandes abolicionistas, escreveu logo após o fim da escravidão: O caráter de sua cultura é a imprevidência e a rotina, a indiferença pela máquina, o mais completo desprezo pelos interesses do futuro, a ambição de tirar o maior lucro imediato com o menor trabalho próprio possível, qualquer que seja o prejuízo às gerações seguintes.

Falta de conhecimento não pode ser desculpa. O pensamento imediatista e a ganância são as verdadeiras causas. Coisas que não mudam em um dia só.

Em tempo: O IBAMA apreendeu ontem, em feiras em Campo Grande e Duque de Caxias, cerca de 200 aves. Dezesseis pessoas foram detidas e indiciadas (veja n'O Globo). "Os pássaros apreendidos pela polícia serão agora encaminhados ao Centro de Triagem do Ibama, em Seropédica, para depois serem reintegrados à Mata Atlântica". LAMENTÁVEL!