Embora ferramentas de pedra antigas usadas por esses macacos para quebrar frutos secos já fossem conhecidas, esta é a primeira vez que se descobrem sítios arqueológicos com vestígios milenares de uma "cultura" símia. O que traz à tona uma questão com a qual os antropólogos têm se debatido: o que é mesmo "cultura"?
A definição tem sido cada vez mais bagunçada pelos estudos de comportamento animal.
Considerada num passado não muito distante uma característica humana por excelência, a transmissão cultural --que inclui o uso de ferramentas para modificar intencionalmente o ambiente-- já está bem comprovada em grandes macacos como chimpanzés.
Há bons indícios de que ela aconteça entre golfinhos e até entre os modestos macacos-pregos, separados da linhagem humana por 30 milhões de anos de evolução. Há quem diga que até aves, como os corvos, a possuam em algum grau.
O novo estudo, liderado pelo espanhol Júlio Mercader, da Universidade de Calgary (Canadá), leva essas evidências ao extremo. Afinal, ele mostra que não só os chimpanzés são capazes de transmitir conhecimento tecnológico dentro da sociedade como também de manter esse conhecimento.
(...)
Tecnologia de ponta
Os antigos instrumentos líticos dos macacos consistem praticamente em "martelos" usados para quebrar cinco tipos de castanha existentes na floresta. Os bichos gostam tanto dos frutos que dedicam uma média de sete anos de "estudo" para aprender a rachar os coquinhos sem destruir a noz, usando pedras de até 9 quilos.
(...)
Os sítios arqueológicos descobertos por Mercader e colegas dos EUA, do Reino Unido e da Alemanha precedem a invenção da agricultura por humanos naquela região. "Não havia agricultores vivendo ali há 4.300 anos, portanto é improvável que os chimpanzés tenham aprendido [o hábito] por imitação de humanos, como alguns cientistas costumavam alegar", afirma Mercader.
Para o espanhol, o achado sugere que a técnica da percussão de pedras para quebrar castanhas já era adotada pelo último ancestral comum entre humanos e chimpanzés, há cerca de 7 milhões de anos.
_____________________
Para ler a matéria na íntegra, clique no título ali em cima.
Referência completa do trabalho original:
Mercader, Julio, Huw Barton, Jason Gillespie, Jack Harris, Steven Kuhn, Robert Tyler, and Christophe Boesch.
4300-year-old chimpanzee sites and the origins of percussive stone technology. PNAS, February 2007.
Imagem: iStochphoto