Não podia ter sido mais perfeita a abertura desta (marcante) FLIP. Um showzaço da (entidade) Maria Bethânia, mais uma vez DI-VI-NA no palco, totalmente em casa. E eu, que já estava à flor da pele por uma sééérie de razões (acentuadas pelos hormônios), me acabei de chorar com Casinha Branca (não tem jeito, desde criança é assim...). Fiquei arrepiada do começo ao fim, e depois saí de lá mais pensativa do que nunca. Sabe aqueles momentos em que tudo o que você quer é ficar quietinha pensando na vida, agarrado a quem se ama? Pois é.
*
Mesas
Só havia duas mesas que eu queria muito ver: a do Safran Foer e a do Mário de Carvalho. Tava curiosa para saber como eles eram e o que eles pensavam sobre seus trabalhos. Mas sobre isso eu falo daqui a pouco.
Não havíamos comprado ingresso para a primeira mesa, na quinta, e resolvemos arriscar quando o queridíssimo (Jabuti!) Marcelino nos contou que seria o mediador. Pensamos que, no mínimo, a mesa seria divertida, afinal o Marcelino certamente daria conta do recado. Não só foi super dinâmica, como também conhecemos de perto o André Laurentino, cujo livro A paixão de Amâncio Amaro parece ser maravilhoso (MM já comprou, esta lendo e está amando, o que é ótimo sinal, já que ele é suuuuper crítico! rs). O trecho lido pelo Dedé é de uma delicadeza incrível.
A segunda mesa do dia foi a De onde vêm as palavras, como o David Toscana e o (fofo!) Mário de Carvalho (mais conhecido como “O Portuga”). O debate em si não foi lá grande coisa não. Que falta faz um bom mediador! Não me emocionei muito com o trecho lido pelo Toscana e por isso talvez esteja sendo tão difícil acabar de ler o livro dele. Já o Portuga é uma delícia de escutar, embora o Era bom que trocássemos umas idéias sobre o assunto (que eu li e AMEI) pareça infinitamente melhor que Um deus passeando pela brisa da tarde. Uma coisa não se pode negar: os títulos dos livros dele são óóóótimos! É um absurdo que um cara com mais de 20 livros publicados só tenha dois lançados no Brasil. Não preciso nem dizer que já fui pesquisar a FNAC de Portugal pra pedir favores aos amigos que estão morando por lá, né? Já vi uns dois ou três que muito me interessaram...
Na sexta vimos a mesa As matérias do romance, com o Ignácio de Loyola Brandão, Miguel Sanches Neto e Wilson Bueno (com a grande responsabilidade de substituir o Cony, que ficou doente e não pode ir). Criei uma expectativa enorme com o Ignácio de Loyola e o que ele leu fo decepcionante. Em compensação, adorei o trecho lido pelo Miguel Sanches Neto, do Chove sobre minha infância (mais um livro pra eu roubar da estante do MM), e dei boas risadas com a leitura do trecho de Amar-te a ti nem sei se com carícias, do Wilson Bueno (já foi pra lista!).
No sábado, nosso dia mais cheio, começamos com a mesa da qual participaram André Sant'Anna, Lourenço Mutarelli e Reinaldo Moraes. Tudo novidade pra mim. Tudo muito diferente. Não achei nada sensacional, mas fiquei curiosa, especialmente em relação ao livro novo do Reinaldo Moraes (enquanto isso, eu devo ir lendo o Tanto Faz mesmo, pra aquecer...).
A mesa seguinte era a do Gabeira, que eu estava muito curiosa pra ver. Mas, seguindo a tradição de péssimos serviços nos restarantes de Paraty (embora sejam quase todos muito charmosos e com a comida maravilhosa), ficamos mais de uma hora esperando para sermos servidos. Chegamos no meio do debate e eu sinceramente já estava desanimada demais pra prestar muita atenção. Assisti uns minutos, o suficiente pra ver o Hitchens chamar o Gabeira de terrorista e ele continuar tranqüilo como sempre. Fiquei pelas redondezas aproveitando a luz maravilhosa do fim de tarde de outono para fotografar.
José Miguel Wisnick substituiu o Ricardo Piglia, que também ficou doente. Wisnick dissecou contos de Machado, em especial Um homem célebre (que eu adoro), e fez a ponte com o nascimento da música popular brasileira como a conhecemos hoje. Pena que eu estava extremamente cansada e não aproveitei muito. No fundo, devia ter ido para a pousada tirar um cochilo...
A última mesa do sábado reuniu Safran Foer e Ali Smith, duas felizes surpresas. A mediação ajudou muito para que debate fosse o mais dinâmico possível. Não concordo com quem disse que eles tinham sido frios e arrogantes. É óbvio que não dá pra exigir de uma escocesa e de um americano descendente de ucranianos o mesmo calor de um pernambucano e uma paraibana, não é mesmo? De arrogância, nao vi nada. O que vi foram dois escritores completamente desarmados, desmistificando uma série de coisas acerca do processo criativo. Aproveitei para ouvir o debate na língua original para comprovar uma suspeita: os livros do Safran Foer são pessimamente traduzidos para o português. Extremamente alto e incrivelmente perto, só em inglês! Da Ali Smith, Hotel World (que ainda está sendo tranduzido para o português) parece ser melhor que Por Acaso. Por via das dúvidas, vou ler os dois.
A última mesa da FLIP para mim foi Adélia Prado, no domingo pela manhã. Todo mundo sabe que eu não sou a maior fã de poesia (embora fosse quando criança). Isto é fruto dos poetas ambulantes (Você gosta de poesia?), deste que fazem performances, que me perturbam na porta do CCBB e que nos perseguiram a FLIP inteira. Aliás, sobre isso falarei mais tarde também. O fato é que escutar Adélia Prado foi como escutar aquelas velhinhas do interior, fofas até dizer chega, daquelas que você quer chamar de vó e quer encostar a cabeça no colo e que ganhar cafuné e que dar beijinhos naquelas bochechas bem vividas. Não foi à toa que muita gente chorou. Adélia Prado disse coisas brilhantes. Criticou essa mania moderna de transformar tudo em arte. "Quando tudo é arte, nada é arte", ela disse. Assino embaixo! Isso sem contar a crítica à falta de contemplação de hoje em dia (a vida engole a gente, eu vivo dizendo isso...), e apontou a nítida relação entre a arte e a religiosidade. Enfim, uma palestra que deve ter colocado muita gente no seu devido lugar. Eu poderia estar até agora escutando a Adélia falar. Mas me diz se não seria uma beleza ouvir o papo dela numa casinha branca, varanda, quintal, janela, sol nascendo...
Ficou faltando só ver a Nicole-esposa-do-Safran-Foer. Tudo bem, depois pego o livro emprestado com o Flávio! ;-)
Não sei o que tinham aquelas moças lá na nossa pousada, que não gostaram da FLIP. Pois eu gostei tanto, que acho que nunca saberei explicar exatamente o porquê.