Abro a Ilustrada (Folha de São Paulo) de sábado e tomo um choque. Logo pela amanhã. Nada contra, mas comparar Adélia Prado com Lya Luft e Martha Medeiros realmente me deixou em estado de choque. Deu até indigestão, o café ficou entalado na garganta (para não falar de efeitos colaterais mais graves).
Primeiro de tudo, vamos parar com essa história de "literatura feminina", óquei? Isso reduz todas as mulheres a um bando de desesperadas em procura de um homem ideal e aficcionadas por um "sentimentalismo exacerbado", este último, segundo a matéria da Folha, característica das três escritoras. Mais uma vez, nada contra esse tipo de livros, eu mesma li todos os Bridget Jones e afins, e adoro. Mas não é só disso que eu gosto, e nem as mulheres que eu conheço. Eu, particularmente, adoro uma boa história policial, com direito a porrada, sangue, morte, autópsia, sexo e palavras de baixo calão. Então, sem estereótipos e rótulos, por favor, que eu não tenho mais paciência pra isso.
Em segundo lugar, ler esta matéria me deu a nítida sensação que eu e os repórteres deste jornal vimos palestras completamente diferentes. O que eles fazem parecer é que Adélia ficou lá naquele palco, fazendo discurso sentimentalista apelativo para as mulheres de 40, e somente para elas. O que eu vi foi uma mulher extremamente talentosa e muito bem vivida dividindo experiências e pensamentos que tocaram homens e mulheres, velhos e jovens. Vi estudantes que certamente não passavam dos seus 22 anos, de ambos os sexos, se emocionarem. Vi homens da idade de meu pai e meu avô terem a mesma reação.
Adélia Prado estava falando de arte, de beleza, de transcendência, do mistério da vida, não é? Foi o que eu achei.
Eu não mereço isso num sábado de manhã. Pior, Adélia não merece.