“A Natureza fez tudo a nosso favor, nós, porém, pouco ou nada temos feito a favor da Natureza. Nossas terras estão ermas, e as poucas que temos roteado são mal cultivadas, porque o são por braços indolentes e forçados. Nossas numerosas minas, por falta de trabalhadores ativos e instruídos, estão desconhecidas ou mal aproveitadas. Nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo. Nossos montes e encostas vão-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes que favoreçam a vegetação e alimentem nossas fontes e rios, sem o que o nosso belo Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido aos paramos e desertos áridos da Líbia. Virá então este dia (dia terrível e fatal), em que a ultrajada Natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos.”
José Bonifácio de Andrada e Silva
Representação à Assembléia Constituinte e Legislativa do império do Brasil sobre a escravatura, 1823.
Extraído de Um Sopro de Destruição: Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786-1888), de José Augusto Pádua (Jorge Zahar Editor, 2002)